Depois de sofrer 13 gols em uma partida na cidade natal, Telê
Santana desistiu de seguir os passos do pai; ali surgia um mito

Vinícius Dias

O cenário era a Itabirito da década de 1940 - pelas estimativas, no ano de 1942. Quando Telê Santana da Silva buscou a bola no fundo das redes pela 13ª vez em jogo pelo Itabirense Esporte Clube, ele era apenas 'o filho de Zico Lopes', lendário arqueiro do clube tricolor. "Meu pai começou com muita volúpia e ainda novo. Por influência do meu avô, que, inclusive, defendeu o América Mineiro, ele foi para o gol. Isso aos 10 ou 11 anos", observa o filho Renê Santana, de 57 anos.


"Depois de ter sofrido 13 gols naquela partida, Telê nunca mais quis ser goleiro", conta Renê, sem citar o adversário do qual seu pai fora vítima. A passagem mal-sucedida por debaixo das traves inspirou em Telê o desejo de se aventurar no ataque, função em que se consagraria no Fluminense. Surgia o mito. "As peladas, que antes eram na rua, ele passou a jogar no Itabirense", acrescenta.

Inscrição de Telê na Liga local, em 1947
(Créditos: Arquivo/Itabirense Esporte Clube)

Telê atuou no Itabirense até completar 12 anos. "Ele foi forjado, formado ali", conta Renê. Na sequência, transferiu-se para o rival Usina Esperança, de onde, menos de dois anos depois, retornou ao time do coração. "Telê gostava do Esperança, mas toda a família torcia pelo Itabirense. Ao voltar ao clube, a felicidade foi total", destaca Renê. Aos 16 anos, ele completou sua trajetória pelo trio de ferro de Itabirito ao vestir a camisa do União durante amistoso.

Rumo ao estrelato

Mais tarde, ele deixaria o Itabirense para defender o América de São João del-Rei, equipe que havia sido fundada por seu pai, Zico Lopes. De lá, e motivado pelo sucesso na cidade natal, foi para o Fluminense. "Restava a alegria de ficar ao pé do rádio e ouvir as transmissões", disse, em 2012, o velho amigo Luiz Júnior, de 85 anos.

Telê, à esquerda, em ação nos anos 1940
(Créditos: Arquivo Pessoal/Renê Santana)

ROJÃO - Um acidente, aos seis anos, marcaria a vida de Telê. "Um rapaz estava soltando rojões e, na sequência, dava para os meninos brincarem. Certa hora, o Telê achou que o rojão já tivesse sido usado e pôs a mão", reproduz Renê. Resultado? Telê perdeu o indicador e danificou mais dois dedos da mão esquerda. Acabava ali o sonho de servir o exército. Aquela mão, porém, ergueria inúmeros troféus e manejaria a prancheta tática da seleção nas Copas de 82 e 86.

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