Caso de altitude... e atitude!

Vinícius Dias

A mensagem da presidente Dilma Rousseff, aliada às manifestações de craques como Sorín e Alex, e ao apoio do "rival" Alexandre Kalil deram a certeza de que o enredo da estreia celeste na Libertadores ultrapassou as quatro linhas. Bem mais que a boa atuação do Real Garcilaso e o fato de o Cruzeiro ter sucumbido à altitude, o racismo traduzido a cada vez que a bola encontrava os pés do volante Tinga ganhou o mundo.

Ainda no século passado, o sul-africano Nelson Mandela, ícone da luta contra o preconceito racial, afirmava depositar as últimas esperanças nos esportes. "Eles têm poder para mudar o mundo. Poder para unir as pessoas como poucas coisas conseguem", afirmou. De fato, sob a bandeira da inclusão, o futebol - em especial - confirma a cada dia sua capacidade de congregar povos e classes sociais.


No Brasil, onde se tornou marca da identidade nacional, o esporte tem representado, mesmo além dos 90 minutos, uma rara oportunidade de ascensão social, um raro círculo em que o diferente tem vez (e voz) para tentar a própria sorte. Os signos, assim representados, se confundem com a trajetória do gaúcho Paulo César Fonseca do Nascimento.

No currículo, os títulos

Duas Copas do Brasil, duas Taças Libertadores e um título brasileiro. As várias batalhas superadas e as gotas de suor derramadas nos gramados credenciam Tinga a ser o grato exemplo do homem, de família humilde, que transformou obstáculos em degraus para o sucesso. 

Tinga: volante foi vítima de racismo
(Créditos: Washington Alves/Vipcomm)

Na contramão, as cenas de racismo levam à indignação. O preconceito, que agora vitima o meia cruzeirense, ora mirou Vagner Love, Roberto Carlos, Robinho, Júlio Baptista, Dedé. E, de forma velada, acomete dezenas de cidadãos a cada minuto, nos mais longínquos cenários. O comportamento asqueroso, herdado dos anais da escravidão, torna o diferente indigno de respeito.

Desrespeito à história!

Que, além de punido, o exemplo peruano seja combatido. O desrespeito a Tinga foi ainda um golpe - duro, diga-se - contra a história do Brasil. De Pelé, Dida, Lêonidas da Silva e tantos Paulos, Cézares, negros que nem mesmo na tentativa de bradar por piedade contaram com o olhar generoso da história, a serviço dos vitoriosos.

Que a noite de derrota na altitude tenha, na linha do tempo, a marca da vitória da atitude na batalha diante do preconceito. Caso contrário, Tinga terá motivo para manter a triste proposta de trocar seus diversos títulos pelo "simples" direito (que já deveria ter) de ser respeitado enquanto faz seu trabalho.

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