Marcelo Bechler: à moda mineira

Com passagens por vários veículos mineiros, Marcelo Bechler
tem se destacado como comentarista esportivo em São Paulo

Vinícius Dias

Jornalista formado em 2008 pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas), o belorizontino Marcelo Machado Bechler é, hoje, um dos expoentes da imprensa paulista. Para ele, "não existe opinião sem informação".

Bechler exibe talento em São Paulo
(Créditos: Facebook/Reprodução)

Trabalhou nas rádios Inconfidência e Globo-CBN (MG), e na TV Horizonte. Foi colaborador do Jornal Hoje em Dia e da Rádio Jovem Pan, São Paulo. Atualmente, é comentarista do Sistema Globo de Rádio, em SP, e escreve no Blog do Bechler.

Quando você optou pela carreira de jornalista? Algum familiar ou profissional de sucesso lhe influenciou no gosto pela comunicação esportiva? 

Optei muito cedo, ainda com 12 anos. Gostava muito de futebol e decidi trabalhar com isso. Cheguei a ter dúvida entre jornalismo e educação física, mas como sempre gostei de escrever, gostava de história e geografia, optei naturalmente pelo jornalismo.

Como você analisa o sucesso do rádio esportivo brasileiro, mesmo diante da constante modernização das transmissões televisivas no país?

O rádio também se moderniza. Interação com o público, mais dinamismo. Na verdade, esporte é sempre consumido e rádio não é um meio caro. Existe já estrutura montada há muito tempo e ela é aproveitada. É um meio que tem grande alcance e segue vendendo publicidade.

49 anos depois do Santos de Pelé, em 1963, o Corinthians vence a Libertadores de maneira invicta. Sem grandes estrelas, fez valer a força do conjunto. O que isso significa, no momento em que, cada vez mais, os conjuntos brasileiros têm contratado atletas de fama internacional?

O próprio Corinthians contrata. Ronaldo, Adriano, Alex (que o clube pagou 7 milhões de euros). A questão é o time montado pelo Tite. Nunca privilegiou as estrelas e ganhou um brasileiro e uma Libertadores. Mostra como trabalho bem feito, a médio e longo prazo, traz resultado. Mais importante que a grife é o trabalho. Apesar do Corinthians ser hoje o clube mais rico do Brasil, tinha Edenilson, Ralf, Castan, Paulinho, William, Edenilson...todos jogadores que foram garimpados de equipes menores. Serve de lição para clubes com menor investimento e que precisam ser competitivas.

Campeã do Mundo, em 2010, e das Eurocopas, em 2008 e 2012, a Seleção Espanhola se mantém na liderança do ranking da Fifa. Para você, o que faz desse um conjunto vencedor? É o favorito ao título em 2014?

A Espanha tem uma ótima geração e isso faz diferença. Mas o principal foi entender o próprio jogo. Perceberam suas qualidades e tentam explorá-las ao máximo. Sabem de seus defeitos e tentam se proteger deles. Não tem centroavante? Joga sem centroavante. Não precisa ser refém de um esquema. Não é um time perfeito, mas é um time que minimiza erros como nenhuma outra seleção consegue fazer. E já virou escola. O time olímpico (apesar do fracasso) tinha 2 jogadores do Barcelona e mesmo assim jogava como o time catalão e a seleção espanhola. Já independe das peças, há uma filosofia.

Indicado ao Prêmio de Melhor do Mundo em 2011 e cobiçado por grandes clubes europeus, Neymar acertou - há seis meses - sua renovação contratual com o Santos. Para você, é possível que o atacante alce voos mais altos, mesmo permanecendo no Brasil?

Para isso, ele vai precisar de um time. A ideia era compensar o dinheiro que o Santos abriu mão (o recebimento da multa) dando um bom time para Neymar e vendendo as outras peças. Foi o que fez quando vendeu Wesley, André, Zé Eduardo, Alex Sandro, Danilo e Jonathan. Ter um bom time, vender peças periféricas, repor bem, seguir competitivo. O plano era esse. Mas com o time mau, fica mais difícil convencer Neymar a não se seduzir com propostas de outros centros.

Caso o Santos vencesse a Libertadores de novo em 2012 e Neymar brilhasse nas Olimpíadas, seria possível começar a cogitar em brigar, e não participar, do prêmio de melhor do mundo.

Há algum tempo, o nível da arbitragem nacional tem sido bastante questionado. Você acredita em benefício a determinadas equipes? Vislumbra no uso de tecnologias eletrônicas e/ou profissionalização dos árbitros, medidas eficazes na resolução deste quadro?

A tecnologia para determinar se a bola ultrapassou a linha de gol eu sou favorável. É relativamente simples e fácil de fazer. Outros lances são mais complicados. Lembro em 2008, um lance entre Cruzeiro x Flamengo. Tardelli caiu na área e na hora vi pênalti claro. Pelas imagens da TV minha certeza só aumentou. Dois dias depois, uma outra imagem mostrou que não houve nem choque entre os dois.

Sobre nível de arbitragem, será cada vez mais questionado. Justamente porque as câmeras mostram o que o olho não consegue enxergar. É natural e tende a aumentar.

Como você se posiciona no que se refere à atuação (em algumas ocasiões, violenta) das torcidas organizadas no país? É favorável à extinção?

A extinção pura e simples só dificulta a identificar o infrator. Os hooligans, enquanto permaneciam do seu lado da torcida, eram controláveis. Os problemas começaram quando eles se infiltravam entre os adversários e começavam os tumultos. É importante ter punição severa. Em uma briga de 300 pessoas, como houve esse ano em SP, não podem ter 9 presos. É punir um a cada 30. Se houver punição rígida, os fatos violentos diminuem com certeza.

Um dos principais eventos esportivos dos próximos anos, a Copa do Mundo de 2014 será sediada no país. O que você pensa a respeito? Vê como oportunidade de desenvolvimento, ou chance de mascarar as deficiências?

Era a grande chance de virar o jogo, e nós estamos perdendo. O país nunca viu tanto investimento e no final a conta não vai fechar. Os custos não param de crescer, por ter que acelerar as obras, os cofres já foram desfalcados em mais de 1 bilhão. Poderíamos aproveitar o investimento e mudar a cara das cidades, mas tudo será feito no improviso. Se você tem uma avenida que te leva ao estádio, poderia construir outra, ampliar essa, levar o metrô até lá. O que vamos fazer? Antes do jogo as duas vias em um sentido, depois do jogo as duas vias no sentido contrário. É muito pouco.

Mas há outro fator. A Copa de 2006 foi na Alemanha e a Itália venceu. Uma vez, ouvi Klinsmann dizer "perdemos a Copa, mas ganhamos o país". Por tudo que envolvia o orgulho alemão afetado desde as guerras do século passado. Isso pode acontecer no Brasil. Nos dar mais confiança, mais orgulho, mais patriotismo e menos patriotada. Mais zelo pelo nosso dinheiro, etc. Vamos aguardar.

Bate-pronto:

• Ronaldo ou Romário?

Ronaldo.

• Pelé ou Messi?

Pelé.

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